Livro: As Esferas Elementares

 Hermeson Cassiano de Oliveira

As esferas elementares



Prólogo

Escuridão, calor e falta de ar. Wladimir sentiu o pânico absoluto e claustrofóbico tentando entender o que estava acontecendo. Aparentemente enterrado vivo, ele lutava com todas as forças para movimentar-se e encontrar um sopro de oxigênio para seus pulmões. Numa fração de segundos, um misto de pensamentos confusos passava por sua cabeça. Seus pais, sua irmã caçula, a namorada e os amigos da faculdade de biologia. O que está acontecendo? Onde estou? Porque estão fazendo isso comigo? A agonia só aumentava e à medida que o fôlego chegava ao fim, seus pensamentos tornavam-se ainda mais confusos.
O jovem rapaz de 19 anos sentia uma dolorosa saudade de casa, da proteção do lar e do carinho de sua família. Relembrava vários momentos felizes de sua vida no espaço de tempo suficiente para apenas um piscar de olhos. Um natal em família, sua irmã o acordando no dia do seu aniversário de 15 anos com um cartão exageradamente enfeitado que ela mesma havia feito, uma noite de boas risadas com os amigos em seu quarto e o lindo sorriso de sua namorada. Fragmentos simples de sua vida que normalmente ele não lembraria, mas por algum motivo, naquele momento de puro pavor diante da morte quase certa e sem sentido, a mente de Wladimir o fez reviver estas lembranças.
Uma imensa tristeza invadia seu peito e a certeza de que a morte estava chegando o inconformava. Por que estou aqui? Vou morrer, não acredito, eu vou morrer aqui, pensou ele. Mesmo tendo a certeza de que seu fim inexplicavelmente havia chegado, com suas forças se exaurindo e seus últimos suspiros de vida esbarrando contra a areia que pressionava seu rosto, Wladimir mesmo assim sentia uma profunda vontade de descobrir o que estava acontecendo afinal e quem o enterrara vivo daquela maneira? E por quê? A resposta àquelas perguntas talvez ele jamais conseguisse encontrar.
Wladimir já estava desistindo. Sentia seus músculos tremerem devido ao grande esforço feito em tentativas inúteis de livrar-se da sua cova. A cabeça doía com a falta de oxigenação e sua boca tinha um gosto amargo devido à imensa quantidade de areia que inevitavelmente engolia. É o fim, pensou o jovem já sem esperanças. O último sentimento a invadir Wladimir foi a indignação. Eu não posso morrer, não assim! Num último e doloroso movimento, usando a última fagulha de forças existente em seu corpo, ele empurrou a terra na única direção que lhe parecia sensata, pra cima. Uma dor dilacerante percorreu seu braço à medida que o esforço aumentava. A tontura estava prestes a fazê-lo desistir e mergulhar numa inconsciência eterna. Seu corpo inteiro começou a ter espasmos incontroláveis e sua pele coçava insuportavelmente. Foi então que o impossível aconteceu. A terra acima de sua cabeça começou a se mover e imediatamente um fio de esperança invadiu seu peito trazendo consigo uma energia que ele imaginava não mais possuir.
A areia continuava a se mover para cima. Um grito de dor e esperança saiu da boca de Wladimir e foi abafado pela terra. Ele resistia ao cansaço e à agonia, suas forças pareciam inexplicavelmente aumentar enquanto ele empurrava o punho contra o peso acima de sua cabeça. Finalmente, ele conseguiu. Sua mão direita não mais encontrou resistência e uma leve brisa passou por entre seus dedos. Mesmo em uma situação tão estranha e desesperadora, naquele momento, Wladimir sentiu-se imensamente feliz e aliviado, porém, ele ainda não estava livre e ainda precisava jogar ar em seus pulmões imediatamente. Eu vou sair daqui, pensou o rapaz com motivação renovada. Ele continuou, seguiu em frente. Apesar de seu braço ter tocado o ar, ainda seria um esforço sobre-humano retirar todo seu corpo daquela cova. Mas aos poucos Wladimir foi conseguindo. Primeiro seu outro braço, depois sua cabeça e enfim, seu corpo inteiro.
Deitou-se no chão de braços abertos. Ofegante, exausto e completamente dolorido, inspirava o máximo de ar que seus pulmões eram capazes de absorver. Tentava recuperar um pouco de suas forças para enfim voltar pra casa e ir á polícia contar o que acabara de acontecer. Foi então que olhando para o céu, ele sentiu seu estômago embrulhar e o coração acelerar diante do espanto que seus olhos o revelavam.
Ele não estava em sua cidade e nem em qualquer outro lugar familiar à sua memória. O medo voltou a dominar Wladimir, que se encontrava no meio de uma clareira aberta artificialmente dentro de uma estranha floresta densa com árvores gigantescas. Wladimir sentou-se e olhou ao redor. Ainda atordoado e com a visão turva, a primeira imagem que viu e que acabou deixando o jovem abismado foi uma gigantesca estátua logo atrás de onde estava enterrado, com uns 5 metros de altura, aparentando ser uma pessoa com asas enormes que iam até os calcanhares. Wladimir levantou-se e deu a volta para mirar a estranha e angelical escultura de frente. Era uma figura masculina, com cabelos ondulados até a altura dos ombros, vestido apenas com um manto. Tinha em uma das mãos um livro aberto e em outra uma esfera que parecia ser de cristal e se encaixava perfeitamente na palma da mão da estátua refratando a luz do sol exatamente no local de onde Wladimir acabara de emergir.
Várias perguntas insuportavelmente intrigantes invadiam a cabeça ainda desorientada do jovem rapaz. Meu Deus! Quem construiria algo assim no meio da floresta? Onde estou afinal? Wladimir sentiu que estava sendo observado, seu coração acelerou mais uma vez e o susto quase o fez desmaiar. Olhou para traz, limpou os olhos ainda cheios de areia e imaginou se não estava tendo alucinações. Sua desorientação foi sucumbindo aos poucos. Pensou em correr, mas sabia que não teria forças, eles eram muitos.
Wladimir não estava sozinho naquela floresta. Ele poderia ter ficado aliviado, talvez corrido pedir ajuda àquelas pessoas, mas ficou receoso se realmente eram pessoas. Por todos os lados, formando um semicírculo diante de Wladimir, estranhos e curiosos seres o miravam com olhares de aparente expectativa.
Olhando para aqueles seres, tentando raciocinar e encontrar algo sensato a dizer, Wladimir conseguiu distinguir dentre eles pessoas aparentemente normais. Eram em número de oito e todos pareciam ter mais ou menos a mesma idade. Altos e angelicalmente belos, seus olhares eram firmes e bondosos ao mesmo tempo. Trajavam armaduras douradas que pareciam ajustar-se anatomicamente ao corpo de cada um. Todas com um desenho diferente, escrituras e símbolos que Wladimir não conseguiu reconhecer, como se tivessem sido feitas com exclusividade para seu dono. A única e marcante semelhança entre todas as armaduras era a esfera encaixada no peito de cada uma. Wladimir olhou dos homens de armaduras douradas para a gigantesca esfera na mão direita da estátua às suas costas, pensando se poderia haver alguma relação, mas estava demasiadamente anestesiado diante do que estava presenciando e rapidamente desistiu de tentar encontrar uma explicação.
Olhando para o resto do grupo, Wladimir sentiu uma estranha vontade de ajoelhar-se e implorar por uma explicação rápida e racional para o que estava vendo. Diante dele, em meio àqueles seres, havia o que seu cérebro processou como anjos. Negros, loiros, ruivos e orientais, trajando mantos brancos e com asas idênticas às da escultura no meio da clareira, tinham corpos atléticos e um ar de bondade e, ao mesmo tempo, tristeza em suas faces.
O terceiro tipo e mais estranho grupo era formado por quatro indivíduos com silhuetas semelhantes às de homens e mulheres normais, porém, eram mais altos do que o normal e seus corpos pareciam ser feitos de pura luz branca. Eles conversavam entre si, mas não era possível ouvir o que diziam. Apenas falavam e apontavam para Wladimir, que sentia o pavor aumentar em cada célula de seu corpo.
Estavam todos reunidos diante de Wladimir. Diferentes e estranhas criaturas que ele nunca imaginaria existir nem em seus sonhos mais estranhos. Nenhuma atividade entre eles aconteceu até que uma senhora idosa surgiu atrás de um dos homens de armadura dourada. Imediatamente todos abriram caminho para que ela pudesse passar. A anciã aparentava ser bem velha, com cabelos totalmente grisalhos e trajando um velho vestido cinza com um cachecol branco no pescoço. Ela caminhou lentamente até Wladimir, com um olhar caridoso, aproximou-se segurando um manto nas mãos. Foi então que Wladimir sentiu um frio subir pela espinha e sua garganta fechou. Ele percebeu que estava completamente sem roupas. Sentiu vontade de correr, olhou para os lados procurando algo para se cobrir, mas não encontrou nada além de grama baixa. A solução foi encolher-se aos pés da imponente estátua e ser consumido pelo imenso constrangimento que sentia.
– Não tema jovem Wladimir – Falou com uma voz suave e acolhedora a anciã. – Dêem as boas vindas ao último. Finalmente ele chegou. – ela olhou-o nos olhos e com um sorriso de alívio e satisfação disse: – Wladimir, Arpons está honrada e feliz em recebê-lo. – Todos baixaram a cabeça, como um tipo de cumprimento, enquanto a anciã jogou o manto em torno do corpo nu do apavorado e confuso rapaz. Em seguida, ela retirou do bolso uma esfera azul, semelhante às presentes no peito das armaduras douradas e apontou para o céu nublado. A esfera começou a brilhar na mão da anciã e, de repente, um clarão azul cegou a todos.
Eram sete horas da manhã, Wladimir acordara suado e ofegante em seu quarto e percebeu que tudo não tinha passado de um sonho. O mesmo sonho que o jovem tinha quase todas as noites nos últimos meses e que vinha se repetindo com uma maior freqüência ultimamente. Ele se ver enterrado vivo, emergindo aos pés da grande estátua na qual um anjo segura uma esfera no meio de uma clareira aberta na floresta cheia de seres estranhos olhando para ele. Já aconteceu tantas vezes que Wladimir passou a ignorá-lo. Depois de ter o mesmo pesadelo repetidamente, deixou de ser importante. Principalmente hoje, no seu aniversário de 20 anos. Ele só queria tornar este dia inesquecível para ele e para as pessoas que ama. Apenas não imaginava que este seria o dia mais inesquecível de toda sua vida.
Comente e aguarde o primeiro capítulo.

Comentários

  1. Além de biólogo e professor ainda eh escritor?!haja talento!
    Hei, publica logo o primeiro capítulo!Vou morrer de curiosidade!

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  2. Patrícia Silva...

    Ainda não tinha visto esse outro lado do teacher, se isso é só o começo, imagina o restante do livro!!!!
    Quando você publicar eu quero uma cópia tah?
    Tá muito bom, amei o personagem fazer biologia!!
    Claro que não tem nada a ver com vc né? rsrsrsrs (¬¬'Acredito)...kkkk!
    Tá muito bom mesmo!

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